Infelizmente é frequente o número de profissionais de mergulho que quebram as paradas de descompressão e não entendem os riscos envolvidos nessa atitude!
Se você ainda não é um mergulhador, precisa saber que existe um limite máximo de tempo que podemos passar em cada profundidade para garantirmos a segurança de nosso mergulho.
Diferente do que muitos imaginam, quando mergulhamos nós respiramos ar. O ar é composto por 79% de nitrogênio e 21% de oxigênio.
Quando respiramos ar sob pressão nosso corpo absorve nitrogênio e por isso é chamado de gás inerte.
Você deve estar se perguntando: mas e o oxigênio? O oxigênio participa de vários processos metabólicos em nosso corpo e se transforma em CO2 (dióxido de carbono). O principal é a oxidação da glicose para liberação de água e energia.
Existe um limite máximo de nitrogênio que o nosso corpo tolera.
Não respeitando os tempos máximos de fundo ou subindo à superfície de maneira rápida, poderão se formar bolhas de nitrogênio na corrente sanguínea, causando a chamada Doença Descompressiva.
Por isso, esse limite de tempo é chamado de Limite Não Descompressivo (LND) e cada mergulhador deve ser capaz de monitorar seu tempo de fundo durante seu mergulho para evitar uma doença descompressiva.
Gostou do tema dessa semana?
Vem comigo que a discussão hoje vai ser interessante!
TABELA OU COMPUTADOR DE MERGULHO?
Existem basicamente 2 maneiras de um mergulhador acompanhar seu tempo de fundo para garantir que está cumprindo o Limite Não Descompressivo (LND).
O primeiro é o método, mais antigo, utilizando as famosas tabelas de mergulho.
Neste caso o mergulhador planeja seu mergulho utilizando a tabela de mergulho para achar o LND do seu mergulho e acompanha o tempo total de mergulho com um relógio à prova d’água.
Com o avanço da tecnologia, surgiram os computadores de mergulho.
Existem muitos benefícios do uso do computador de mergulho, mas o principal é que ele permite um tempo de fundo maior pois calcula a cada mudança de profundidade seu novo limite não descompressivo.
Usando a tabela de mergulho, você planeja seu mergulho com a profundidade máxima, o que não é real, já que você está sempre variando sua profundidade. Com isso você perde tempo de fundo.
Existe muita discussão entre o uso das tabelas e os computadores de mergulho.
Veja na tabela abaixo os prós e contras de cada um:
Aqui no Brasil o custo dos computadores de mergulho ainda é um pouco alto, mas a cada ano que passa esse valor vem caindo e mais mergulhadores estão tendo acesso.
Para um mergulhador recreativo, o computador deixa o mergulho muito mais seguro!
As próprias certificadoras de mergulho estão incentivando cada vez mais o uso de computadores de mergulho.
Na última alteração do curso básico de mergulho da PADI, em 2014, foi dado um foco maior no uso do computador e hoje o instrutor pode escolher qual método usar, tabela ou computador, para ministrar seu curso de mergulho.
Isso não significa, que ao escolher usar o computador o aluno não vai aprender nada sobre a tabela. Ele aprende os conceitos básicos da teoria da descompressão, mas não precisa fazer os cálculos, pois o computador faz isso.
Entretanto, o alunos vai aprender as regras do uso dos computadores e a importância de entender as informações da tela do seu computador.
Existem muitos mergulhadores que investem em computadores de mergulho, mas como não leram o manual, não sabem interpretar as informações que aparecem na tela quando estão mergulhado.
O QUE FAZER EM CASO DE QUEBRA DO LIMITE NÃO DESCOMPRESSIVO?
Quando um mergulhador não respeita o seu limite não descompressivo ele deverá fazer uma parada de descompressão.
Não confunda parada de descompressão com parada de segurança.
A parada de segurança é realizada aos 5 metros por 3 minutos.
A razão pela qual a parada de segurança foi introduzida no mergulho é para dar ao seu corpo mais tempo para liberar o nitrogênio absorvido antes de retornar à superfície.
Embora a profundidade recomendada para a parada de segurança ainda seja rasa, 5 metros, a partir desta profundidade o nitrogênio será liberado de seus tecidos a uma taxa muito mais rápida dado o maior gradiente de pressão.
Paradas de segurança são consideradas obrigatórias para mergulhos com mais de 30 metros ou aqueles que se aproximam de um limite não descompressivo.
Embora não seja estritamente necessário, a maioria das certificadoras de mergulho recomendam uma parada de segurança ao final de cada mergulho.
Já a parada de descompressão é uma parada obrigatória em casos onde o mergulhador ultrapassa o limite não descompressivo.
A função da parada de descompressão é eliminar o excesso de nitrogênio absorvido pelo corpo durante o mergulho e evitar a doença descompressiva.
O tempo da parada de descompressão vai depender de quanto tempo o mergulhador passou a mais do que o permitido naquela profundidade.
Mas como saber o tempo que devemos ficar na parada de descompressão?
Ao usar uma tabela de mergulho você precisará carregá-la com você durante o mergulho ou decorar as regras do que fazer no caso do não cumprimento do limite não descompressivo.
Na RDP – Recreational Dive Planner da PADI o mergulhador precisa saber quanto tempo a mais ele passou do limite não descompressivo para definir sua parada de descompressão:
- < 5 minutos: parada de descompressão de 8 minutos aos 5 metros e não mergulhar por 6 horas
- > 5 minutos: parada de descompressão de 15 minutos aos 5 metros e não mergulhar por 24 horas
Pense num mergulho no Naufrágio Draguinha à 30 metros de profundidade, onde o LND é de 20 minutos, e por uma falha do mergulhador ele esquece de monitorar seu tempo de fundo e faz um tempo total de fundo de 26 minutos.
Neste caso, o mergulhador precisará fazer uma parada de descompressão de 15 minutos, pois passou 6 minutos do limite não descompressivo, além dos 3 da parada de segurança.
Em um caso como esse existe uma grande chance do mergulhador não ter ar suficiente para cumprir as paradas e com isso o mergulhador deverá conservar ar para subir em segurança, omitindo assim parte de sua parada de descompressão. Por isso a importância de manter em todas as operações um stage com ar extra pendurado aos 5 metros.
Caso a parada de descompressão seja omitida, o mergulhador deverá respirar oxigênio puro, monitorar por 24 horas os sinais e sintomas da Doença Descompressiva (DD) e não mergulhar por 24 horas.
Ao usar um computador de mergulho, o próprio computador irá acompanhar seu tempo de fundo, monitorar seu limite não descompressivo e calcular sua parada de descompressão.
Fácil né?
Não é bem assim, pois você precisará entender as informações que aparecem na tela do seu computador.
Por isso é extremamente importante ler o manual do seu computador de mergulho e entender seu funcionamento.
Já perdi as contas das vezes que guiei mergulhadores certificados que ao verem seus computadores alarmarem apontam o braço pra mim durante o mergulho, pois não sabem o que isso significa.
Existem diversas marcas e modelos de computadores de mergulho e cada um vai ter uma configuração de tela.
Lógico, que como temos mais contato com vários tipos e modelos de computadores, fica mais fácil configurar e interpretar as telas dos computadores.
Mas é quase impossível para um instrutor de mergulho saber tudo!
De maneira geral, em caso de parada de descompressão, irá aparece na tela do seu computador palavras como stop, deco stop ou ceiling stop, seguidas de uma profundidade e um tempo.
A maioria dos computadores de mergulho sugere a parada de descompressão aos 3 ou 5 metros de profundidade.
Já o tempo dependerá de quanto tempo você passou a mais e isso será calculado pelo seu computador.
No caso de uma parada de descompressão, você deve ir para a profundidade determinada e permanecer nela pelo tempo estipulado pelo seu computador, mesmo que você ache que seu computador esteja errado.
Em alguns modelos pode aparecer uma contagem regressiva, mas em outros a informação da parada de descompressão desaparecerá da tela do seu computador após cumprir o tempo necessário.
Caso você omita a parada de descompressão, parcial ou total, seu computador poderá dar um erro e provavelmente ficará travado por até 48 horas, justamente para que você não volte a mergulhar.
Desta forma, você não deve mergulhar até seu computador destravar,
QUAL O RISCO AO OMITIR UMA PARADA DE DESCOMPRESSÃO?
Como dissemos anteriormente, a parada de descompressão serve para eliminar o excesso de nitrogênio absorvido pelo corpo durante o mergulho.
Ao omitir uma parada de descompressão você estará aumentando o risco de uma Doença Descompressiva (DD).
A doença descompressiva é provocada pelo excesso de bolhas de nitrogênio em nosso organismo.
Uma vez que as bolhas podem se formar em lugares diferentes do corpo, os sinais e sintomas incluem:
- paralisia
- choque
- fraqueza
- tontura
- formigamento
- dor no corpo
- dor nas articulações
- inconsciência
- morte
Os sinais e sintomas da DD podem se iniciar desde os primeiros 10 minutos até muitas horas após a volta à superfície.
A doença descompressiva (DD) é classificada em 2 tipos:
- DD Tipo 1: Moderada e envolve a pele, o sistema musculoesquelético, ou sistema linfático, gerando dor nas articulações, vermelhidão de pele com coceira, ou inchaço de gânglio linfático.
- DD Tipo 2: Mais grave e envolve principalmente o sistema nervoso central, com perda de sensibilidade, gerando perda de força e até paralisia de membros, vertigem, sintomas respiratórios graves e outras formas mais raras.
Existem alguns fatores secundários que aumentam o risco da doença descompressiva. Entre eles temos:
- frio
- idade
- doença
- lesões
- desidratação
- consumo de bebidas alcoólicas
- excesso de peso
- exercício físico imediatamente antes e depois do mergulho
Em caso de suspeita de doença descompressiva, o mergulhador deve procurar imediatamente uma unidade de emergência para análise de um médico e caso seja diagnosticada a DD, o mesmo será encaminhado para uma câmera hiperbárica.
Estando na embarcação ou na praia, os primeiros socorros em caso de doença descompressiva incluem os seguintes procedimentos:
- Ligar para o SAMU através do 192
- Forneça oxigênio
- Monitorar sinais e sintomas da DD
- Mantenha a vítima deitada, em posição de recuperação com o lado esquerdo para baixo
- Monitorar os sinais vitais do paciente
- Administrar RCP se necessário
A melhor maneira de evitar uma DD é estar bem informado sobre o uso de seu computador e sempre mergulhar de forma conservadora!
QUAL A IMPORTÂNCIA DISSO PARA OS PROFISSIONAIS DE MERGULHO?
Como um profissional de mergulho você depende da saúde do seu corpo para trabalhar.
Lembre-se como um divemaster ou um instrutor de mergulho você mergulhará quase todos os dias de sua vida!
Desta forma, precisamos mergulhar dentro dos limites da tabela ou do computador para garantir a nossa própria segurança e a continuidade de nossa carreira como um profissional de mergulho.
Além disso, todo profissional de mergulho deve servir de exemplo para os mergulhadores. Se o instrutor de mergulho não respeita os limites não descompressivos, porque os mergulhadores vão respeitar?
A parada de descompressão deve ser encarada como uma ação de emergência e não uma rotina do trabalho de um divemaster ou instrutor de mergulho.
Já recebi no curso de Instrutor de Mergulho pessoas que nunca tinham usado um computador, mesmo trabalhando como divemaster em mergulhos profundo.
Já presenciei situações onde mesmo usando um computador de mergulho a pessoa não tinha a mínima ideia do seu funcionamento e acabou entrando em deco porque não entendeu as informações da tela.
Já escutei relatos de profissionais que quebram as paradas de descompressão e penduram seus computadores com uma corda dentro da água para que seu equipamento não trave.
Você consegue ver o absurdo das frases acima?
Profissionais, que deveriam garantir a sua própria segurança, quebram as regras do mergulho pois não entendem seu equipamento ou que porque simplesmente acham que estão acima delas.
As regras de mergulho não surgiram do nada. Elas foram desenvolvidas com base em diversas pesquisas e existem para garantir a segurança da atividade.
É importante lembrar que, embora os modelos matemáticos prevejam resultados, eles usam tecidos teóricos. O fato de que um mergulho foi realizado dentro dos limites sugeridos por um computador de mergulho ou uma tabela de mergulho não faz com que o risco de uma DD seja nulo.
Além disso, existem fatores secundários que podem aumentar a chance de uma doença descompressiva.
Ou seja, por mergulharmos mais precisamos ser sempre conservadores para garantir a nossa própria segurança!
COMO AUMENTAR A SEGURANÇA DOS SEUS MERGULHOS?
Existem algumas atitudes simples, mas que fazem toda a diferença no seu dia a dia.
- Mergulhe sempre com um computador de mergulho, mesmo quando for cair para amarrar ou desamarrar o cabo de descida;
- Leia o manual do seu computador e saiba interpretar as suas telas e informações;
- Planeje seus mergulho dentro do Limite Não Descompressivo, ou seja, não planeje fazer parada de descompressão;
- Reveze com os demais membros da equipe as atividades de descer para amarrar e desamarrar o cabo de descida;
- Respeite as paradas de segurança e as paradas de descompressão
- Seja sempre conservador!
Cumprir essas regras não tem nada haver com ser um mergulhador nutella ou coxinha, como escuto às vezes.
Seguir essas regras demonstra que você é um profissional responsável e que se preocupa com a sua segurança!
E você, o que acha desse assunto?
Compartilha com a gente alguma situação que você já presenciou.
APRENDA COM OS MELHORES!
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