Convidamos Stavros Silva, Diretor de Cursos da PADI, para falar um pouco sobre sua trajetória e sua decisão de trabalhar com mergulho.
Muitas pessoas dizem que não é possível ter sucesso profissional e financeiro trabalhando com mergulho.
Por isso resolvemos trazer a história de Stavros para inspirar quem deseja mudar de carreira e entrar de cabeça no mergulho. Atualmente, ele atua principalmente na formações de novos instrutores, sendo um dos diretores de curso mais experientes no Brasil.
Gostou do que vem por aí? Então compartilhe essa entrevista com seus amigos e não se esqueça de deixar o seu comentário.
1 – COMO VOCÊ DESCOBRIU O MERGULHO?
Desde pequeno sempre tive muita afinidade com água. Praia sempre foi uma constante na minha vida. Junto com uns amigos comecei a pescar e quando percebemos estávamos dentro d`água observando os peixes.
Desta fase de pesca para prestar mais atenção no mundo subaquático foi um pulo. Eu e um primo compramos cilindro, regulador e back pack, já tínhamos um bote inflável.
Na época com poucas oportunidades de curso, começamos a mergulhar, ou seja, totalmente fora do recomendável. Senti a necessidade de aprender mais e fiz meu primeiro curso de mergulho em 1989 pela CMAS na Urca.
2 – QUANDO DECIDIU TER O MERGULHO COMO UMA CARREIRA?
Defini minha carreira profissional na Indústria do Petróleo, especificamente em laboratório de controle de qualidade. Depois de atingir uma certa independência financeira fiz minha educação continuada além do curso básico.
Em um anúncio de jornal descobri uma escola de mergulho (Divers Quest) que fazia saídas pela Marina da Glória, isso era o ano de 1991. Gostei tanto que abandonei as minhas aventuras com meu bote inflável, que a esta altura já era um bem maior.
Nestas saídas de mergulho na Marina da Glória foi quando conheci a PADI e seu sistema de ensino. Parti para o curso de mergulho avançado, fiz muitos amigos e juntos fomos evoluindo como mergulhadores através de novos cursos.
Em certo momento estávamos no nível de Divemaster, isso já era 1993, e mesmo comprometido profissionalmente na área de Petróleo, transformei o mergulho em um part time job, atuava como DM nos finais de Semana na mesma Marina da Glória, onde iniciei.
Atuei como Divemaster em muitas outras escolas de mergulho do Rio de Janeiro. Lembranças muito felizes de um tempo em que Rio de Janeiro, Angra dos Reis, Arraial do Cabo e Cabo Frio estavam despontando como destino para o mergulho recreativo, ou seja, as nossas operações eram pura diversão, mesmo com trabalho que dava nos bastidores.
Isso foi me cativando e aliado a minha paixão pelo mergulho, me tomou de assalto com a oportunidade de ter isso como uma atividade profissional e de liberar o estresse de uma atividade diária laboral de 8 ou mais horas fechado em um ambiente corporativo.
Outra grande influência foi que nesta leva de amigos, tinha uma turma muito próxima de Minas Gerais (Juiz de Fora) que sabendo que eu mergulhava se interessaram por experimentar. No início eu levei para um “batismo” 2 amigos , quando dei conta já eram uns 10 que haviam experimentado. Todos queriam ser mergulhadores, no início chamava um amigo Instrutor para completar os cursos, mas no final já eram tantos que queriam ser mergulhadores.
Neste ponto me perguntei se não era aquilo que eu queria para meu futuro, poder transmitir tudo aquilo que eu via embaixo d’água para outras pessoas também apaixonadas pelo mar. Decidi ser Instrutor PADI e em 1997 completei meu curso, de uma satisfação pessoal virou uma profissão que foi tomando forma e vi uma oportunidade de ser uma atividade que poderia me trazer retorno financeiro.
3 – COMO VOCÊ PLANEJOU A TRANSIÇÃO ENTRE AS CARREIRAS?
Desde o curso de Formação de Instrutores, havia conseguido trazer estas duas atividades profissionais de uma maneira bem planejada e organizada. Atuava em 3 frentes, Mundo Corporativo, Mergulho e Vida Pessoal, não foi e não é fácil, mas dentro de todas as dificuldades atendia muito bem a todas.
Continuei minha educação dentro do sistema PADI e me vi cada vez mais envolvido no suporte não somente a cursos de entrada, assim em 2001 iniciei como IDC Staff e passei a trabalhar também na formação de novos instrutores.
Como profissional da área de Petróleo sempre fui muito bem realizado, fazia aquilo que gostava, trabalhava dentro do que desenvolvi na minha formação acadêmica, tanto escola técnica quanto universidade.
Mas o ser humano sempre foi um ser que não para de sonhar. E sonhar fazia parte da minha vida, como seria trabalhar na administração do meu próprio tempo, tarefas e objetivos? Como seria sair de dentro de 4 paredes ou planta industrial e trabalhar ao ar livre, com minhas próprias metas?
Este constante questionamento formou na minha mente o desejo de ter a atividade de mergulho como a minha principal depois de me aposentar ou mesmo se tivesse de sair da área de petróleo.
Isso demandaria um mínimo de organização, foi assim que iniciei um planejamento de forma que eu tivesse um conjunto de objetivos alcançados até um determinado período para que eu pudesse estar pronto.
Nisso a experiência do mundo corporativo foi fundamental, muitos anos trabalhando com um sistema organizacional, metas, diretrizes e critérios, reuniões, vaidades e política, me deu a expertise necessária para elaboração deste plano.
Quando eu estivesse pronto avaliaria a necessidade e/ou o momento certo para decidir meu futuro. Estava dado o passo, minha primeira meta era ser credenciado com Course Director PADI até 2010.
4 – QUAL FOI A MAIOR DIFICULDADE EM LARGAR UMA CARREIRA NA PETROBRÁS PARA TRABALHAR COM MERGULHO?
O desejo de conhecimento e o medo do desconhecido move as grandes mudanças. No meu caso o medo do desconhecido e uma certa estabilidade era o grande problema. Para os da minha geração ter um salário mensal certo independente do que ocorre no mundo e uma assistência independente da governamental sempre foi um diferencial.
Outras pessoas são dependentes de você neste nível da vida. Largar isso e se aventurar em uma atividade que ainda caminha a passos muito curtos para o profissionalismo como o mergulho, e arcar com todas as variáveis do empreendedorismo, era uma conta que não fechava. Mas em função de um grande desgaste, estresse e outras intempéries no meio do meu caminho no mundo corporativo, havia chegado o momento de me fazer a grande pergunta: Será que não está na hora?
Quanto tempo mais vou aguentar a ponto de sair ainda com disposição de me desafiar? Nunca achamos que estamos preparados. No final as forças conspiraram e a pergunta foi respondida. Saí para o desafio dos meus próximos anos de vida.
5 – QUAIS FORAM AS DIFICULDADES NO INÍCIO DA SUA NOVA CARREIRA?
Como em qualquer atividade, é muito importante que tenhamos conhecimento de quem é o nosso cliente e como fornecer o serviço exato que ele precisa.
No meu caso meu foco foi todo para a formação de instrutores, isto demandou um trabalho de identificação e definição de qual melhor forma de trabalho. Neste ponto a ajuda e trabalho em conjunto com pessoas experientes foi fundamental, com o tempo e dedicação disponível começei outro planejamento.
Mas minha maior dificuldade e preocupação era ter disciplina para conduzir meu dia como profissional independente. Ter um home office e não criar rotina é o avesso da produtividade e eficiência. Novamente, meus 25 anos de indústria do petróleo havia me dado a experiência necessária para este desafio.
6 – COMO VOCÊ ENFRENTOU ESSAS DIFICULDADES?
Eu definir um objetivo. Com o quê dentro do negócio do mergulho eu quero trabalhar? Um especialista em muitas áreas não é especialista em nada.
Estudar, me envolver mais em uma administração de um Dive Center, vivenciar o dia a dia, agora com outro foco, o negócio do mergulho. Entender como o cliente compra o produto “mergulho”, de que forma ele reage a um bom atendimento e a um suporte ineficiente.
Ter como objetivo trabalhar para ser uma referência fornecendo o mesmo serviço que outros profissionais, porém me preocupando em ter um diferencial para que os clientes o solicitem. Fornecer exatamente aquilo que o cliente mergulhador necessita. No mergulho promovemos emoção, isso é o que o cliente deseja quando nos procura, assim quanto melhor preparado para entender o cliente melhor.
7 – VOCÊ SE SENTE REALIZADO COM SUA CARREIRA DE MERGULHO?
Sim, diria que hoje na minha vida como profissional do mergulho, tenho como lembrar exatamente dos casos em que passei por algum desgaste ou estresse. Sempre existirão, mas hoje aprendo com eles, não mais convivo com eles.
Não há nada mais prazeroso! Trabalhar em uma embarcação olhando o mar, sentindo o vento e o sol e ao final do dia chegar com aquela sensação de cansaço que não chega a ser um incômodo. Uma noite de sono e você está pronto para mais um dia. Não tem o que pague.
8 – COMO VOCÊ VÊ O MERCADO DE MERGULHO NO BRASIL? HÁ PREVISÃO DE CRESCIMENTO?
O mergulho é uma atividade totalmente ligada ao turismo, assim, o primeiro a sofrer quando ocorre qualquer crise financeira ou econômica.
Nos últimos 2 anos sentimos muito as intempéries econômicas do nosso país. Com a queda da demanda o mercado está se reinventando. Nos últimos 10 anos passamos por várias mudanças, o mais importante é que o mercado do mergulho no Brasil acompanhou a exigência do cliente se profissionalizou, mas agora necessitará mais especialização.
Com a crise muitas escolas tiveram que diminuir seu tamanho, seu alcance e seus investimentos para sobreviver. Quem tiver maior capacidade de organização e planejamento continuará no mercado, perdemos peças importantes, mas quem continua está aprendendo a tirar proveito da crise.
Na minha opinião o mercado do mergulho terá de mudar a forma com que se comunica com o cliente. A crise econômica gera incerteza, assim, quem tem algum recurso para alocar em entretenimento vai decidir com mais critério.
Hoje este cliente tem um mundo de opções para buscar e escolher o local onde deseja se divertir e aprender mergulho. Atraí-lo e fazer com que dê preferência a sua escola ou o seu serviço requer um diferencial. Para criar este diferencial precisamos de informação deste cliente, quem é, o que gosta, como compra,etc.
Vejo um crescimento do mercado de turismo de mergulho interno, com mais mergulhadores certificados em atividade e menor número de cursos de entrada.
Todos nós nos adaptamos a realidade da economia e aprendemos a nos organizar com as dificuldades. O crescimento do mercado de mergulho acompanhará a retomada da estabilidade do país.
9 – MUITOS DIZEM QUE O MERCADO DE MERGULHO É FECHADO E É DIFÍCIL CONSEGUIR EMPREGO. QUAL A SUA OPINIÃO?
Não acho um mercado fechado. Existem muitas oportunidades tanto no Brasil quanto no Exterior.
Como toda profissão, exige preparação e planejamento. Quando se decide ter o mergulho como principal atividade o primeiro passo é verificar o que o mercado demanda.
Se o instrutor pretende trabalhar fora do Brasil, falar outras línguas é essencial e deve fazer parte do planejamento. Mesmo no Brasil, a atividade de mergulho está ligada ao Turismo, onde recebemos clientes estrangeiros, assim mesmo no Brasil devemos considerar falar outras línguas.
Considerando o tamanho do nosso país, temos poucos Dive Center, o estímulo e o incentivo ao turismo de forma profissional é baixo em nosso país.
Os Dive Centers trabalham com equipes enxutas, mas sempre recebo muitos pedidos de indicação de instrutores. Os sites das certificadoras de mergulho sempre tem uma área de oportunidades disponível para consulta do profissional de mergulho.
10 – O QUE VOCÊ CONSIDERA SER UM BOM PROFISSIONAL DE MERGULHO?
O mergulho é um serviço, e como todo serviço o bom atendimento é essencial. Assim para mim o bom profissional é aquele que presta um bom atendimento.
Não temos alunos de mergulho, temos clientes que compram um serviço e o nossa preocupação principal deve ser com a segurança do nosso cliente, atender a expectativa do nosso cliente.
Trabalhamos com sensação de felicidade e prazer, temos de ser exemplos.
Muitos dizem que trabalhar com mergulho não dá dinheiro, o que você diria para essas pessoas?
No Brasil o mergulho sofre como toda profissão, os salários muitas das vezes não atende a expectativa do instrutor. Não acredito que alguém consiga um salário exuberante como profissional do mergulho, mas se o instrutor aliar o conhecimento de treinamento, captação e retenção de clientes vai poder almejar um retorno financeiro adequado.
O que é adequado? Eu não conseguiria definir. Muitas das vezes o retorno financeiro é relativo. Varia de pessoa para pessoa.
Inspirado? Deixe seu comentário ou se preferir, escreva também sobre as suas dúvidas neste assunto que eu lhe responderei.
Muito bacana a entrevista com o Stravos, e também a iniciativa de ter publicações como esta, que são muito inerentes e relevantes ao mercado como um todo, principalmente àqueles que querem se tornar profissionais do mergulho recreativo. Precisamos de mais gente criativa e com coragem o bastante para realizar (ou ao menos tentar) os diferenciais que o Stavros cita e assim entender e aprender com os resultados dessas iniciativas, e evoluir sempre. Parabéns!
Olá Paulo, fico muito feliz que tenha gostado. A ideia é essa mesmo, mostrar para o pessoal que é possível sim ter sucesso no mundo do mergulho! 🙂
Lendo essa história, vejo que estou no caminho, ainda vou VIVER do mergulho. Parabéns a todos envolvidos nesse post.
Olá Vinicius!
Ficamos muito felizes que tenha gostado da entrevista.
Cuidado! Viver de mergulho é altamente viciante!! rsrs 😉