Infelizmente vejo muitos instrutores de mergulho aqui no Brasil que não acham importante seguir os padrões de treinamento de mergulho de suas certificadoras.
Ao se tornar um instrutor de mergulho nós assinamos um termo de responsabilidade junto à certificadora e concordamos em seguir seus padrões.
Se você ainda não é instrutor, deve estar se perguntando de onde surgiram esses padrões?
As próprias certificadoras nasceram da necessidade da criação de padrões que garantissem aos seus instrutores um jeito único de ensinar.
Atualmente existe o WRSTC – World Recreational Scuba Training Council, uma organização internacional que estabelece os padrões mínimos de treinamento para as certificadoras de mergulho recreativo.
As principais certificadoras de mergulho seguem esses padrões, o que permite a equiparação dos cursos entre as certificadoras.
Mas esses são padrões mínimos.
Cada certificadora de mergulho, visando melhorar a qualidade de seus cursos de mergulho, pode agregar mais conteúdo.
Existem várias razões para um instrutor de mergulho seguir os padrões de sua certificadora, mas infelizmente não é isso que vemos nos mercado.
Por isso resolvi escrever o artigo desta semana.
Quero levantar alguns pontos para discussão e mostrar o porquê quebrar os padrões da certificadora não é um bom negócio!
Ficou curioso? Então, me acompanha que esta semana a discussão vai ser profunda.
PARA FICAR DENTRO DA LEI
Em muitos países não existe uma lei que regulamenta a atividade do mergulho recreativo, mas foram elaboradas algumas normas pela ISO, Organização Internacional de Normalização, para garantir a qualidade e a segurança na prestação deste tipo de serviço.
Os cursos PADI, a nível mundial, são certificados por um auditor independente para garantir a conformidade com as normas da ISO para Serviços de Mergulho Recreacional.
Aqui no Brasil essas normas foram traduzidas em normas técnicas (NBR) pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas e podem ser consultadas na íntegra através do Portal do Sebrae.
Em 2008 foi publicada a Lei Geral do Turismo (Lei nº 11.771), que tornou obrigatória a implementação dessas normas.
Existem normas técnicas para diversos serviços, como o batismo de mergulho e o mergulho guiados, assim como para os diversos cursos de mergulho.
Veja aqui a lista completa:
Como tudo aqui no Brasil, ainda temos problemas na fiscalização dessas normas, pois ainda não foi definido um órgão responsável por fiscalizar o cumprimento dessas normas.
Entretanto, mesmo não havendo uma fiscalização, em um processo jurídico existe uma base para condenação, caso seja provado que você não estava seguindo as normas da atividade.
Seguindo as normas de sua certificadora você está seguro e mesmo que haja algum incidente mesmo você cumprindo um padrão, é a sua certificadora que vai explicar por que este padrão existe.
PARA GARANTIR A QUALIDADE DE SEUS CURSOS
Esses padrões de treinamento não existem por acaso!
Na PADI, por exemplo, existe a Diving Science and Technology – DSAT, sua organização responsável por desenvolver e aperfeiçoar sua metodologia de ensino e seus padrões de treinamento.
Ou seja, existe uma equipe especializada que estuda as melhores formas de se ensinar as técnicas de mergulho para criar mergulhadores mais confiantes e preparados.
São anos de experiência em ensinar técnicas de mergulho. Os padrões da PADI foram criados na década de 60 e desde então vêm sendo aperfeiçoados.
Cada exercício existe por um motivo. A sequência das atividades também segue uma lógica e garante que o aluno aprenda do mais fácil para o mais difícil.
Seguir os padrões da certificadora também demonstra que você é um profissional comprometido com a qualidade de seus cursos e demonstra para seus clientes e alunos seu profissionalismo.
Não cumprir o conteúdo padrão de seus cursos, pular exercícios para encurtar as suas aulas ou até não corrigir pessoalmente os exercícios e as provas com seus alunos afeta diretamente o aprendizado de seu aluno.
Quebra de padrão cria péssimos mergulhadores, que não estão preparados para mergulhar de maneira confiante!
PARA GARANTIR A SEGURANÇA DE SEUS ALUNOS
A maioria das certificadoras usa o relatório anual de acidentes de mergulho emitido pela DAN – Dive Alert Network para atualizar seus padrões de treinamento e aumentar a segurança da atividade.
Ou seja, as certificadoras analisam os principais motivos de acidentes de mergulho e revisam ou incluem novas habilidades e conteúdos em seus cursos.
Em 2014 a PADI atualizou seu curso básico de mergulho e incluiu em seu manual questões interpretativas que fizessem os alunos mergulhadores pensassem em cenário de mergulho e pudessem desenvolver assim seu julgamento.
Além disso, habilidades como liberação emergência do lastro e o uso da bóia de superfície foram adicionadas para aumentar a segurança dos mergulhadores.
Os padrões de treinamento foram elaborados considerando também a segurança dos mergulhadores e é por isso que existem profundidades máximas, proporções de alunos por instrutor e sequência de habilidades a serem seguidos.
Quebrar os padrões da certificadora coloca a segurança de seus alunos em risco.
Quando você como instrutor de mergulho, decide desconsiderar as condições do mar como visibilidade e mar agitado ou ignorar regras como nunca deixar seus alunos sozinho, você está interferindo na segurança de seus alunos e clientes.
PARA VOCÊ GANHAR DINHEIRO
Se você é do tipo de instrutor que não se importa com a qualidade de seus cursos ou com a segurança de seus alunos, pelo menos deve pensar que está perdendo dinheiro!
Quando você deixa um mergulhador básico mergulhar a uma profundidade maior do que ele está habilitado, você está fazendo com que essa pessoa não reconheça e veja a importância de se fazer o curso avançado para mergulhar mais fundo. Isso também acontece quando você deixa uma pessoa a mergulhar dentro de uma naufrágio sem ter feito a Especialização em Naufrágio ou quando você deixa ela mergulhar usando nitrox sem o devido treinamento.
Outro exemplo clássico, são os instrutores que levam os iniciantes que estão fazendo o batismo para mergulhar além da profundidade máxima permitida.
Com certeza a maioria dessas pessoas acabará não vendo a necessidade de fazer o curso básico, visto que conseguem mergulhar sem a certificação de mergulhador.
Além de estar quebrando regras de segurança e aumentando os riscos de acidentes em suas operações, você não está ganhando dinheiro, pois não está vendendo os cursos de mergulho.
Este é o cenário de muitos instrutores, que acabam reclamando que mergulho não dá dinheiro.
Vivem argumentando que não é possível viver com salário, mas isso é consequência da sua falta de visão comercial da indústria do mergulho.
Nós instrutores de mergulho vivemos do mergulho, não somos uma ONG. Por isso precisamos analisar as coisas como elas devem ser analisadas: um negócio!
Estimule seus alunos a seguirem com suas formação, aprenda a vender cursos de educação continuada, não permita que padrões seja quebrando, e assim no final do ano você vai ter dinheiro para pagar a sua renovação junto à certificadora.
NÃO VALE USAR A DESCULPA QUE VOCÊ NÃO RESPEITA OS PADRÕES DE TREINAMENTO DO MERGULHO PORQUE A EMPRESA TE OBRIGA!
Escuto muitos instrutores dizendo que quebram as regras das certificadoras por uma pressão da escola ou operadora onde trabalham.
Ora, foi você quem escolheu trabalhar nesse local!
Se você não concorda com alguma coisa pode argumentar com os donos da escola e caso não haja uma solução pode procurar outro lugar para trabalhar.
A corda sempre estoura para o lado mais fraco. Se você cair no controle de qualidade da certificadora é você quem vai ficar suspenso ou até ser expulso da certificadora.
Não ache que só existe esse local para trabalhar. Não seja acomodado!
Existem diversas boas escolas e operadoras, com pessoas que se preocupam com todos os pontos que listei acima.
Então, se você quer ter sucesso na indústria do mergulho, procure empresas sólidas que operam o mergulho com o profissionalismo e a seriedade.
Você já tinha parado para pensar nesses pontos?
Compartilhe sua opinião com a gente!